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Dividir para conquistar?

Recentemente, em minhas aulas na graduação e até com colegas na escola, discutíamos a estrutura escolar que muitas vezes precisamos enfrentar: turmas superlotadas, falta de infraestrutura mínima, salas de aulas precárias, falta de recursos (tecnológicos) etc. Na questão do ensino de língua inglesa, tivemos uma discussão bastante acalorada sobre dividir uma turma em níveis de conhecimento linguístico ou não. O assunto da discussão atual é delicado e tem dividido opiniões. Para tanto, vou expor minha opinião do porquê sou favorável à divisão de turmas por níveis. Até porque, há quase 10 anos venho trabalhando desta forma, implementando esse projeto ou dando continuidade a ele nas escolas por onde passo, e posso contar com minha experiência e impressões nesse tempo para traçar e defender meu ponto de vista.

A ideia, se me permitem dizer, romântica e democrática de uma escola para todos, de aulas (de inglês) iguais para todos não se configura na prática. Temos alunos com necessidades diferentes e com rendimentos, estilos de aprendizado e inteligências diferentes. Negligenciar isso é desrespeitar as individualidades de cada um. Democracia não é dar a todos o mesmo tratamento. Não é dar a todos o mesmo caminho e os mesmos recursos, mas sim dar a todos as chances de chegar ao mesmo destino através dos recursos adequados a cada um.

Isso quer dizer que, ao colocarmos todos os alunos, independentemente de seus níveis, juntos em uma sala de aula, muito provavelmente não teremos condições, por menor que seja a turma, de prestigiar igualmente ou adequadamente o aluno que é bom e o aluno que tem dificuldades. Se falamos inglês o tempo todo para prestigiar aquele aluno que sabe mais, o que sabe menos irá se sentir frustrado. Se falamos menos inglês para que o aluno que sabe menos possa se inteirar, o que sabe mais irá se frustrar. Portanto, como achar o devido equilíbrio? Trabalhos extras em sala de aula para os alunos “avançados”? Aulas de reforço para os alunos “básicos”? Só isso não garante, realmente, um ensino democrático.

Nossos alunos têm experiências sociais, econômicas e culturais diferentes, portanto, acho que devem ser tratados diferentemente. Se em algumas escolas o objetivo de se ter inglês desde a mais tenra idade é para que as famílias se sintam desobrigadas de colocarem seus filhos em cursos de inglês, por que não dividimos por níveis, como as escolas de inglês que estamos querendo substituir e outras escolas regulares fazem? Estamos indo na contramão ou estamos inovando? Se estamos indo na contramão, o que fazer para reverter isso? Se estamos inovando, quando mostraremos resultados mais positivos, já que as famílias continuam colocando seus filhos em escolas de idiomas? Qual é o papel do ensino de inglês na escola? Que tipo de aluno queremos que saia de nossas escolas?

Não ter turmas divididas por níveis para tratar a todos igualmente talvez funcione em um mundo perfeito, em que todos aprendam da mesma forma e saibam as mesmas coisas (um mundo de robôs, talvez). Mas não funciona no mundo e sob as circunstâncias que temos hoje. Aí reside a beleza da vida: a diversidade em todos os sentidos e o fato de lidarmos com as diferenças. Não seria mais democrático, produtivo e mais justo dar a todos não o mesmo tratamento, mas as mesmas possibilidades de oportunidades?

Não seria melhor considerarmos o fato que nossos alunos são diferentes, e que talvez tenham rendimentos maiores se estiverem em companhia de seus pares que dividem dificuldades e saberes semelhantes, sem excluir contato com aqueles que “sabem” mais, em projetos dinâmicos em que realmente a troca é produtiva para todos os lados? Será que os desafios não serão maiores e melhor aproveitados desta forma? Será que alunos de níveis diferentes fazem trocas positivas na sala de aula e não dão margem para disputas, mesquinharias e competições estúpidas, que é o que vemos e tentamos controlar em nossas salas de aula boa parte do tempo? Será que a imaturidade dos alunos não emperra ainda mais algo que poderia ser um grande momento sócio-educativo de trocas e aprendizados?

Todos somos iguais perante a lei. Mas somos únicos em nossas individualidades, limitações e capacidades. Somos iguais perante a lei, mas somos diferentes e merecemos tratamentos diferentes, porque, neste caso, não importa como chegar, mas sim o destino. Não importa o meio, mas o fim. Há que se prover condições melhores para que nossas práticas pedagógicas se tornem realmente efetivas e que nossos educandos se sintam mais acolhidos e motivados para prosseguirem em suas aprendizagens de língua inglesa.

Stephen Greene www.tmenglish.org
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Fabiano Silveira

Fabiano Silveira é graduado em Letras Inglês e Mestre em Educação com ênfase em Estudos Culturais. Professor de Inglês do Curso de Letras e Secretariado Executivo Trilíngue da ULBRA e Coordenador do Instituto de Línguas da mesma universidade. Também atua como professor de inglês no Colégio Israelita Brasileiro e como tradutor freelancer para editoras e estúdios de histórias em quadrinhos. Contato: • profnerd@icloud.com • facebook.com/profnerd

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